Dia do Juízo (I)

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(Começo a publicar aqui, às sextas-feiras, os fragmentos que compõem a pequena novela que comecei a escrever, coincidentemente ou não, à mesma época em que parei de publicar aqui no blog - entre agosto e janeiro passados. Nunca concluí o texto; aliás, quando voltei a escrever no blog, não consegui mais escrever a novela. Talvez unindo as duas coisas consiga levar o Dia do Juízo a cabo.)

Tiros. Todo dia, àquela mesma hora, já não mais madrugada, mas ainda não manhã, os militares praticavam no campo de treino vizinho a seu prédio. Como sempre, acordou com os estampidos. A televisão continuava ligada no mesmo canal, que noticiava agora a prisão de um motorista aparentemente fora de si. Abafado pelo relato da repórter, não se podia ouvir o que o policial dizia para conter o homem careca e forte, que berrava incessante e guturalmente. O movimento dos lábios, porém, deixava claro o que a voz emudecida pela edição da matéria ocultava: Pára ou eu te apago!

Acendeu um cigarro enquanto olhava a pilha de processos que se avolumava sobre a mesa de jantar. Precisava trabalhar. O telefone tocou. Mas não podia. Mais uma vez o telefone. Precisava antes organizar a dispersão do mundo. Tocou. Tocou. Não atendeu. Não tinha mais tempo para isso. Apagou o cigarro. Absorto, tentou recordar-se do tempo.

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Opa! Fico feliz em começar a ler Dia do Juízo!! Espero que, por muitas sextas-feiras mais, para recordar do tempo, possamos ler o andamento do processo!


Opa! Fico feliz em começar a ler Dia do Juízo!! Espero que, por muitas sextas-feiras mais, para recordar do tempo, possamos ler o andamento do processo!


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"Direito de ser traduzido, reproduzido e deformado
em todas as línguas"

Alexandre Nodari

é doutorando em Teoria Literária (no CPGL/UFSC), sob a orientação de Raúl Antelo; bolsista do CNPq. Desenvolve pesquisa sobre o conceito de censura.
Editor do
SOPRO.

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Alguns textos

"a posse contra a propriedade" (dissertação de mestrado)

O pensamento do fim
(Em: O comum e a experiência da linguagem)

O perjúrio absoluto
(Sobre a universalidade da Antropofagia)

"o Brasil é um grilo de seis milhões de quilômetros talhado em Tordesilhas":
notas sobre o Direito Antropofágico

A censura já não precisa mais de si mesma:
entrevista ao jornal literário urtiga!

Grilar o improfanável:
o estado de exceção e a poética antropofágica

"Modernismo obnubilado:
Araripe Jr. precursor da Antropofagia

O que as datilógrafas liam enquanto seus escrivães escreviam
a História da Filha do Rei, de Oswald de Andrade

Um antropófago em Hollywood:
Oswald espectador de Valentino

Bartleby e a paixão da apatia

O que é um bandido?
(Sobre o plebiscito do desarmamento)

A alegria da decepção
(Resenha de A prova dos nove)

...nada é acidental
(Resenha de quando todos os acidentes acontecem)

Entrevista com Raúl Antelo


Work-in-progress

O que é o terror?

A invenção do inimigo:
terrorismo e democracia

Censura, um paradigma

Perjúrio: o seqüestro dos significantes na teoria da ação comunicativa

Para além dos direitos autorais

Arte, política e censura

Censura, arte e política

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