FREE THINKING RENEGATES SOCIAL*

| | TrackBacks (0)

Poderia traduzir por "Pensamento liberal renega o social".

A origem da frase é de uma música, chamada Head Full of Ghosts (Cabeça cheia de fantasmas). Permita-me admitir que a frase não seja exata, mas para isto serve o Palimpsesto: trocar, riscar, reescrever, mudar.

"O que é o cérebro humano senão um palimpsesto imenso e natural? Meu cérebro é um palimpsesto e o seu também, leitor. Inúmeras camadas de idéias, de imagens, de sentimentos caem sucessivamente sobre seu cérebro, tão docemente como a luz. Pareceu que cada uma sepultava a precedente. Mas nenhuma, na realidade, pereceu."  Baudelaire, Charles. Les fleurs du mal.1972

Do original "Free thinking renegade social", surgiu a insípida idéia de que o pensamento livre realmente renega (re-negates) o pensamento social.

Re-escrever, re-pensar, re-planejar, re-viver. Sempre alternando, alterando, reformulando.

Pensar livremente, permaneça claro durante esta intenção, não é o oposto a pensar o que mandam, mas opõe-se a não pensar apenas em si. "Pensar social".

Se dever cívico pressupõe um dever, então pressupõe pensar, formular, estipular (ETIFICAR! MORALIFICAR!) uma forma. Liberdade econômica carrega consigo a possibilidade de ganhar tanto dinheiro quanto se pensar poder, renegando qualquer idéia de dever.

Falamos, por aí, em dever cívico, dever social, e até há algumas placas por aí confundindo dever cívico com dever econômico. "Quem dá esmola não dá futuro". Absurdo.


Erradicar a pobreza não significa em si aumentar vertiginosamente o consumo daqueles que hoje pouco consomem por incapacidade monetária, mas diminuir a capacidade e vontade de consumo como regra geral da nação diante de um perigo que acusa ser necessário renunciar

"a essa corrida louca para um consumo cada vez maior. Isso não é apenas necessário para evitar a destruição definitiva do meio ambiente terrestre, mas também, e sobretudo, para sair da miséria psíquica e moral dos homens contemporâneos. Seria, pois, necessário que, a partir de agora, os seres humanos (refiro-me agora aos países ricos) aceitassem um nível de vida decente, mas frugal, e renunciassem à idéia de que o objetivo central de suas vidas é de que seu consumo aumente em 2% ou 3% ao ano." E "uma verdadeira democracia comportando a participação de todos na tomada de decisões, uma outra organização da Paidéia para formar cidadãos capazes de governar e de serem governados, como disse admiravelmente Aristóteles"*1.

 

Pensar em si mesmo, econômica e livremente, renega o dever econômico social.

 

Faz-me lembrar de nossos colonizadores, tanto espanhóis quanto portugueses (pois refiro-me à América latina). Deram-se a liberdade de usufruir de todas as riquezas destas terras. Exterminaram índios, incas... até me arrepio com isso tudo. Pior ainda o que fizeram com os africanos. Porém, hoje, quando um latino, ou um africano, tenta entrar em seus países, são barrados, porque são mão de obra excedente, não os querem, não os necessitam, não os suportam.

 

Se assim pensado seja o liberalismo, usufruir até que possível, e depois negar responsabilidade, entao se isto é pensamento liberal! Libertem-se!

 

Houvesse um juízo justo e bom, internacional, condenaria a Inglaterra, a França, Portugal, outros tantos, a pagarem o roubado ouro com correção monetária, juros, e má-fé em benefício dos extorquidos, exterminados africanos e americanos, teríamos que ter nova concepção de valor, pois capital nenhum seria suficiente.

 

Mas eles negam até mesmo um visto de turismo, extraditam, e continuam extorquindo economicamente, um imperialismo escuso, escondido, subliminar, censurador.

 

Em NOSSA sociedade (poxa, não gosto de admitir que pertenço à esta sociedade inóspita) pensar livremente, ou seja, adquirir economicamente tudo quanto se consegue, é renegar o social.



1 CASTORIADIS, 2002, p. 111.

0 TrackBacks

Listed below are links to blogs that reference this entry: FREE THINKING RENEGATES SOCIAL*.

TrackBack URL for this entry: http://culturaebarbarie.org/cgi-bin/mt/mt-tb.cgi/60

About this Entry

This page contains a single entry by Ramon Brescovici published on novembro 15, 2008 2:37 PM.

Estupidez de Verdade was the previous entry in this blog.

GROO is the next entry in this blog.

A crescente alternância de opiniões, gosto, receios e desejos, leva o cérebro a reforçar sentimentos, e desejos, escondendo insanidades para contrabalancear, encolhendo a si mesmo.

Links: