Aconteceu entre os dias 2 e 5 de
Setembro o primeiro simpósio "Hermenêutica Ricoeuriana e Teoria Literária" nas
dependências do IEL na Unicamp. Acredito ter sido o primeiro evento maior específico
sobre as discussões sobre religião, ética e hermenêutica a partir do pensamento
do filósofo Francês. Acredito ter sido de vital importância a discussão acerca
da narrativa em época carente dela. Obviamente, isto não significa uma volta às
referências, mas discutir como se pensou a narrativa em sua crise, ou seja,
antes da catástrofe, além, é claro, de ser um primeiro passo para um
entrecruzamento entre semiologia e semiótica. No mais, impossível de mencionar
as amizades que apareceram no evento: grande abraço Pe. Pedro Paulo! Abaixo um
resumo da minha comunicação. Quem se interessar, posso enviar o texto. No mais,
qualquer comentário é bem vindo sobre o tema. Por fim, vale a pena salientar o
blog que se criou após o evento: paulricoeur.wordpress.com.
EXCESSO HERMENÊUTICO E O VALOR DA LEITURA
NO PENSAMENTO DE PAUL RICOEUR
Duas críticas ao pensamento de Paul Ricoeur podem
ser ressaltadas no que diz respeito à interdição dentro da hermenêutica. Uma
delas foi aquela de Roger Chartier a qual levantou a questão sobre uma possível
pretensão de objetividade na leitura de textos clássicos em Temps et Récit. A outra foi empreendida
pelo próprio Ricoeur no sentido de se alertar para os perigos de qualquer
totalização narrativa, tal como aconteceria no hegelianismo. Por mais que tais
questionamentos tenham seu valor, observa-se facilmente que eles não
necessariamente desdizem a teoria de Ricoeur, já que outras leituras sobre os
clássicos podem ser realizadas pelo leitor e, por outro lado, a totalização
pode salientar as aporias da narrativa em vez de tentar solucioná-las. No
entanto, o que acontece quando as aporias tornam-se demasiadamente bem-vindas
ou necessárias? Neste tipo de contexto, elas devem enfrentar o paradoxo de que
a interdição de leituras não é tão danosa quanto a desdiferenciação, uma vez que o excesso não necessariamente rompe
com alguma narrativa maior, mas reforça-a dentro de uma inflação hermenêutica a
qual acarreta em uma perda de valor nos meros atos de leitura.
Cumpre pensar, portanto, acerca da relação do ato de ler com a potência criativa. A maior preocupação ao intérprete já não se demonstra o destronamento de uma totalização pela criação-transgressão e que tenha por objetivo a aporia. Muito pelo contrário, pode-se pensar a subversão como tomada da aporia como veículo, sem necessariamente haver total assimilação do resultado, mas apenas afirmação da potência. O ato, neste sentido, abandona a pretensão paradoxal de transgredir e adequar-se à linha do tempo. Deixa, pois, seu caráter cênico para ser tomado como ato-gesto, e que, portanto, rouba a cena. O que está em jogo, neste sentido, não é fazer das aporias simples alegorias, mas espaço para juízo, ainda que por linhas tortuosas ou pouco convencionais.