
Carta achada em 06.05.10. Parece de mimeógrafo.
MANIFESTO
Vivemos hoje no país uma conjuntura de crise que se caracteriza, fundamentalmente, por duas coisas. Uma é a luta da burguesia contra a ditadura militar propondo, inclusive, saídas de redemocratização, para que assim ela exerça diretamente o seu poder político e econômico no sentido de resolver sua crise da melhor forma. A outra é o ressurgimento da luta dos trabalhadores, que apenas engatinham no sentido da sua reorganização, tanto na cidade como no campo.
Se por um lado, a classe dominante está suficientemente forte para levar bandeiras políticas gerais (Constituintes, Anistia, redemocratização), a classe trabalhadora, infelizmente, pela sua condição político-ideológica e organizativa, tem condições apenas de travar lutas específicas. Assim é que hoje ela está incapacitada de levar uma luta política geral pela queda da ditadura. E sabemos que, pelas características do processo de transformação social brasileiro, a derrubada da ditadura militar só se constitui num avanço qualitativo da luta de classes se estivesse direcionada e sustentada pelos trabalhadores, sob a liderança operária.
Neste sentido se colocam questões de fundamental importância. É necessário que compreendamos que a força-motriz da efetivação da reorganização dos trabalhadores se dá hoje sob as bandeiras nascidas das suas condições materiais de vida e trabalho e de lutas políticas específicas. Sejam elas: melhores salários, contra o arrocho, contra a carestia, por sindicatos livres, pelo direito de greve, por sua imprensa independente, e pela defesa de seus líderes. Quer dizer, pelo seu baixo nível de organização e consciência, uma prática política conseqüente tem que ser feita em cima das lutas específicas que a classe trabalhadora possa assumir concretamente, dando sua direção e que reflitam, no seu estágio atual, seus interesses de classe. Será a partir disso que ela viabilizará sua Organização Independente, a construção de seus Partidos e caminhará, juntamente com seus aliados, para um governo próprio. Entendendo assim a situação dos trabalhadores estaremos combatendo a ditadura militar do ponto de vista deles. Mesmo porque a nossa luta contra a repressão burguesa não acabará quando este regime deixar de existir. Mesmo com o engodo das liberdades democráticas, a classe dominante continuará prendendo, torturando e assassinando todos aqueles que tenham uma prática comprometida com o fim de sua exploração e dominação: o regime atual apenas muda as condições de luta mas não altera o problema das classes sociais.
Dessa forma um direcionamento conseqüente e justo para o Movimento Estudantil, não é o de se assumir responsável pela queda do regime só porque, junto com outros setores da pequeno-burguesia, está mais organizado e forte. Ao ME, cabe assumir o apoio e incentivo às lutas específicas atuais, que hoje permitem de fato a reorganização dos trabalhadores, enquanto uma força auxiliar. Ao ME cabe lutar contra a repressão burguesa, que não se findará junto com a ditadura militar. Ao ME cabe assumir de fato sua reorganização (UNE, UEEs, etc.) pelas bases a partir destas lutas e dos nossos interesses específicos enquanto estudantes.
É assim que atualmente poderemos responder a luta contra a política educacional que nos é imposta, que consolidaremos e avançaremos no espaço político já conquistado. Que estaremos participando, na perspectiva dos explorados, do cenário político: não levantando bandeiras que só podem pertencer a burguesia, pelo fato da fraqueza atual do movimento de massas.
Sendo assim nada mais justo do que estarmos aqui neste ATO PÚBLICO na defesa dos companheiros de Pernambuco e dos funcionários do HC, assumindo bandeiras que sejam respostas a estes acontecimentos e que identifiquem o Movimento Estudantil com o Movimento dos trabalhadores, garantindo, na prática, nossa organização e manifestação livre e independente.
-PELA LIBERTAÇÂO DOS COMPANHEIROS DE RECIFE
-POR MELHORES SALÁRIOS
-PELO DIREITO DE GREVE
-CONTRA OS ATOS REPRESSIVOS DA BURGUESIA
-PELA ORGANIZAÇÃO INDEPENDENTE DOS TRABALHADORES DA CIDADE E DO CAMPO
-PELO APOIO DOS ESTUDANTES À LUTA DOS TRABALHADORES
-PELO DIRECIONAMENTO PROLETÁRIO ÀS LUTAS ATUAIS !
Diretório Central dos Estudantes da Universidade Federal de Santa Catarina
Diretório Acadêmico do Centro de Educação da UFSC
Diretório Acadêmico do Centro de Estudos Básicos da UFSC
Movimentos: PARTICIPAÇÃO - UFSC
COMBATE - UFBA e UCSal.
OPÇÃO DE LUTA - UFRJ
Diretório Acadêmico do Setor Tecnológico da Universidade Federal do Paraná
São Paulo, 14 de Julho de 1978 .
Caro Leonardo,
obrigado pela notícia e pela transcrição de um documento que antecede a legalização da UNE. Pergunto, porém, o que significa: "Carta achada em 06.05.10", já que não se trata da data.
Abraços, Pádua