"Raposa política"

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Eu não sei de onde os tucanos tiraram a idéia de que ouvir conselhos de Jorge Bornhausen é um bom negócio. Provavelmente, tem em mente o status de "raposa política" que Bornhausen adquiriu nos círculos políticos e na mídia. Mas se a fama fazia jus à sua atuação durante a ditadura, ela não tem, no período democrático, o menor apoio na realidade, por um simples fato: agora temos eleições. Os feitos dessa "raposa política" depois da redemocratização (antes não vale, porque ser governador biônico não conta), são notáveis.

A primeira jogada de exímio enxadrista político em tempos de democracia foi em 1992. Com o governo Collor quase morto, Bornhausen assume a pasta equivalente à Casa-Civil (secretaria de Governo, salvo engano) para "salvar" o governo. Que cálculo político! Que perícia! Que timing! E todos sabemos o sucesso que foi a operação salva-Collor. Depois, em 1999, só se elege senador por Santa Catarina s custas de Amin, outro filhote da ditadura - Amin era candidato a governo na mesma chapa, e a eleição parecia casada; como diz um amigo, parecia que Bornhausen era candidato à vice do Amin. Como presidente do PFL (vamos descontar os tempos áureos do governo FHC, porque aí as condições eram favoráveis, e o PFL ainda possuía outros "caciques" influentes nos bastidores, como Marco Maciel, e gente eleitoralmente densa, como ACM), teve o mérito de reduzir o número de governadores do partido a ZERO (governador do DF não conta; é governador distrital - e além do mais, era Arruda, que logo virou ex-governador). Bornhausen prometeu acabar com a raça "petista" e disse, em 2006 (não vou fazer link pra fonte, mas é aquela revista bem confiável tratando-se de temas de interesse dos demotucanos), que Lula jamais se reelegeria. E foi essa "raposa política" que conduziu a "reformulação" do PFL naquele processo desastrado que todos conhecemos em que a sigla mudou várias vezes (D25, DEM) até chegar ao atual Democratas, nome que porta um evidente contra-senso: só um idiota pode achar que um partido que passa a liderança de pais para filhos, de César Maia para Rodrigo Maia, de ACM para ACM Neto, de Jorge Bornhausen para Paulo Bornhausen, se "renovou" e é "democrata", e não - o que ele sempre foi - oligarca (como dizia um professor meu: "PFL jovem é uma contradição em termos"). E falando em família, em 2002 decidiu eleger seu filho senador. Como grande "raposa política", traçou uma estratégia de campanha infalível: limitar a campanha ao grande feito único de "Paulinho" Playboy: ser contra os pardais (aqueles radares fixos que medem a velocidade nas Rodovias). Preciso dizer que Paulinho não se elegeu senador? O motivo para tanta habilidade política é simples: Bornhausen não entende nada de democracia. É um político formado na mentalidade da ditadura e sem densidade eleitoral. Ele não entende direito o que é uma eleição. Simples. E se os tucanos já não tem mais um projeto, não são os conselhos eleitorais de Bornhausen que vão ajudar. Se os políticos fossem tão inteligentes quanto a mídia diz, já teriam se livrado dos conselhos dessa "raposa".

P.S.: a sobrevida eleitoral do DEM em SC não conta pros méritos de Bornhausen. Foi a postura do PT em 2003, abandonando o governo eleito PMDB (Luis Henrique Silveira rompera com Serra pra aderir à onda Lula em 2002, mas o PT não aceitou fazer parte do governo), que deu sobrevida ao ex-PFL. O resultado: em 2010, o PMDB não aceitou se coligar ao PT, aliando-se ao PFL. Hoje em dia, o aliado "natural" do PT local é o PP de Amin.

12 Comentários

Ótimo! Outro filhote da ditadura, senador pelo DEM-PB, Efraim Morais (ou como dizia um colunista daqui Efra Imorais), continua sendo votado, entre gracejos como passar a perna no próprio companheiro de chapa (em 2002, candidato ao senado, pedia que não votassem no seu concorrente direto, Wilson Braga, segundo candidato da chapa dele) e ser pego com mais de 50 fantasminhas no seu gabinete. Bem, avessamente ao caso daí, aqui ele sabe mesmo usar a máquina da eleição, quem parece não saber são os eleitores...


Sim, o caso do Bornhausen é particular porque o cara é péssimo de voto. E a capacidade de articulação pra eleições idem - veja o declínio do PFL em 2006. Mas, mesmo assim, ele é considerado, pela mídia e pelos círculos políticos, como sendo um "grande articulador dos bastidores". Ora, espera-se que aquilo que se faz nos bastidores dê resultado na cena (pra continuar na metáfora), mas o resultado de Bornhausen é desastroso. O pior é que o PFL ainda tem políticos com densidade eleitoral - esses velhos com jeito de coronel principalmente -, mas a "renovação" promovida por Bornhausen privilegia os almofadinhas que vão a reboque do sobrenome e são de uma burrice e inabilidade tremendas.

Abraço


O Bornhausen já era mesmo. Pena que em SC o provável segundo turno ainda seja entre dois partidos oriundos da ditadura. Udn x udn. Enquanto no debate nacional podemos até vislumbrar uma discussão entre o lulismo e o marinismo, aqui permanecem ativos dois partidos que estão em franca decadência no resto do país.


Na verdade, PSD x PSD.


Giorgio: é, mas o cenário atual de SC deve ser, como eu disse, creditado na conta do PT. Em 2003, LHS estava isolado pelo rompimento com o Serra nas eleições (sim, era a única cartada dele, mas ele teve a coragem de usá-la), e o PT optou por não compor governo e adotar uma postura "independente". Deu no que deu. Fortaleceu o DEM como força governista, tomou pau em 2006, e vai tomar em 2010. E mais: não conseguiu se firmar como a oposição local, papel que o PP ocupou. Vai ter de se aliar aos Amin. Tem um problema de enfoque do governo federal nisso também: ao que me consta, os recursos pra cá são escassos, devido à idéia de que aqui é um celeiro conservador. Como resultado, Carlito Merss, por exemplo, está isolado e sem ação na prefeitura do maior estado do país, amargando índices de rejeição elevadíssimos. É capaz de nem se reeleger. O PT também tem suas "raposas" de uma "perícia" inacreditável. Abraço


Ou seja mais um caso de miopia política que explica a péssima qualidade das últimas campanhas do PSDB à presidência: tomar um mastodonte por uma raposa!


Paulo: adorei o comentário. Ninguém se pergunta o que o elefante tá fazendo no meio da sala?

Saiu recentemente um volume do Derrida (acredito que seja um curso dele) chamado A besta e o soberano, em que ele analisa o uso de figuras zoológicas no vocabulário político. Se a desconstrução não é um procedimento subjetivo, mas acontece, como dizia o próprio Derrida, então aposto minhas fichas que esse livro dele já está desconstruído pela política nativa. Abraço


Nodari, você esqueceu dois episódios que também demonstram a "imensa capacidade de enxergar a política" de Jorginho Mala Preta.

O primeiro remonta aos tempos da ditadura, a famosa Novembrada...De quem foi a idéia de passear com o então presidente Figueiredo pelas ruas de Floripa, indo do Palácio Cruz e Souza até o Ponto Chic, para ter um "maior contato com o povo"? Bingo! Bornhausen, o então android-in-chief de Santa Catarina, que nunca entendeu os anseios do povo (praticamente Klingon pra ele), achava que o povo daqui ia praticamente levar o Figueiredo no colo...deu no que deu (não dá pra confiar sempre no conservadorismo da manezada).

O segundo episódio vem de 1994, na eleição de Paulo Afonso para o governo. Ele, que se sentiu traído pelo casal Amin (o marido veio a disputar a presidência, a mulher o governo - o que não estava nos planos do "Kaiser"), veio a apoiar o PMDbista. Dois anos depois, deu no que deu, com PA quase sendo impichado.

Acredito que agora ele próprio percebeu que é um bolha. Não se ouve mais falar em "reuniões na Praia Brava". Nem sei onde anda essa triste figura. Mas acredito que ele deve ter tido uma certa influência na "genial, inteligente, astuta, vibrante" idéia de ter o tal Índio como vice de Serra, pois "Kaiser" que é, leva seu partido para a glória de beijar a lona. Abração!


Raphael: não sabia que tinha sido de JKB a idéia "genial" do passeio pelo centro da cidade. Ele é um agente da esquerda infiltrado, só pode. E a aliança com o Paulo Afonso é outra prova de quão exímio Bornhausen é no cálculo político.

Lembro que no primeiro governo Lula houve uma tentativa de aproximação da oposição tanto à direita (PFL, PSDB, PPS), quanto à esquerda (PSOL e PDT, com Brizola e tudo), mas deu água. Não duvido que ele tenha estragado isso também.

Agora, eu não acho que tenham percebido que ele é mão de Merdas. Acho que ele continua influente nos bastidores - graças a deus. Mas talvez tenham percebido - isso sim - que sua figura exala à ditadura.

Por fim: eu não sei o eleitorado daqui é tão conservador assim. Acho que o PT que é inábil demais, faz uma cagada depois da outra, culminando na Ideli imitando Ana Maria Braga e novela da Globo. Pior que isso, só o Tiririca, pior que isso não fica.

Abraço


Ah fica sim. A minha experiência no movimento estudantil me ensinou três lições básicas sobre política:

1. Sonhos não se realizam.
2. Pesadelos sim.
3. Sempre pode ficar pior. Sempre.

Enfim, estou vacinado em relação ao Tiririca.


abraços


Concordo com a maioria dos comentarios sobre o JKB, mas lamento profundamente que este Estado seja tão conservador. A briga, relembrando o que foi colocado, pelo governo do Estado será travada pela direita. Não dá pra não achar que além dos equívocos do coronel também não tenham ocorrido erros estratégicos da esquerda, que por sua vez, não demonstra qualquer traço de união. Ou seja, aqui a coisa funciona assim: a direita briga, mas termina abraçada. A esquerda nunca se entende e termina derrotada.
abraços a todos, Cristina


Nossa SC ainda é recheada de currais eleitorais e o nome Amin ainda é forte, Esperidião leva mais dois na legenda.
É triste ir ao interior e ver sempre os mesmos pleiteando uma vaga à assembléia.


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"Direito de ser traduzido, reproduzido e deformado
em todas as línguas"

Alexandre Nodari

é doutorando em Teoria Literária (no CPGL/UFSC), sob a orientação de Raúl Antelo; bolsista do CNPq. Desenvolve pesquisa sobre o conceito de censura.
Editor do
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