
O Sopro 44 está no ar com O planeta doente, texto de 1971 de Guy Debord. A tradução, de Emiliano Aquino foi publicada originalmente aqui. O texto de Debord continua mais atual do que nunca, na medida em que vincula a grave crise ecológica (que começou século passado e não para de crescer) ao modo de produção capitalista, de maneira que a revolução se torna um imperativo de sobrevivência. Até hoje, nenhum dos dois lados (cores) da moeda, o vermelho ou o verde, entendeu perfeitamente o recado: os comunistas ou social-democratas são incapazes de investir politicamente na questão ecológica, insistindo que, em primeiro lugar, vem a distribuição de renda (ou, discursivamente, a luta de classes); e os verdes ainda insistem que a crise ecológica pode ser contornada sem alterar substancialmente os modos de produção. A bem da verdade, ambos os lados deixam de lado a necessidade de alterar radicalmente os modos de produção - algo que a crise ecológica planetária, a doença que acomete o planeta, deixa evidente ser necessário. Se a saída que Debord aponta (os Conselhos de Trabalhadores comandando toda a produção) não necessariamente garante a resolução do problema (quem garante que os "soviets de marinheiros" controlarão melhor a poluição marítima?), persiste a necessidade de pensar uma política que articule o vermelho e o verde, ou melhor, que os torne indiserníveis. A mensagem de Debord continua mais atual do que nunca.
Também no Sopro 44, um fragmento inédito de Em estado de memória, livro de Tununa Mercado traduzido por Idelber Avelar e que está para ser lançado por esses dias. Publicamos um excerto do capítulo "A espécie furtiva", e o Idelber já havia publicado, em seu blog, o capítulo Um corpo de pobre. A quebra na seqüência temporal da vida que uma ditadura impõe a todos aqueles que força a se exilarem é o/a Stimmung do romance. Tununa, ou a narradora, se coloca em "estado de memória", em uma espécie de estado de emergência temporal, digamos.

Alexandre,
La Planète Malade é um texto interessante e, de fato, diz muito sobre a problemática essa lamentável cisão entre verdes e socialistas. Politicamente falando, os verdes existem porque os socialistas não deram conta de assumir as pautas ambientais, enquanto, por outro lado, os socialistas continuaram a existir porque os verdes não foram capazes de assumir a questão ambiental em toda sua complexidade, desconsiderando o impacto disso sobre a Questão Social.
Vou problematizar um pouco: Um problema grave é que mesmo o verdismo sofisticado de uma Alemanha, p.ex., deixou de lado a Economia colocando-a no mesmo cesto que o economicismo. Por outro lado, os socialistas se agarram na Economia - e também no economicismo -, mas não conseguem pensar o Oikós em um aspecto em uma dimensão que não seja formal. O problema é que falta descobrir isso daí: o Oikós antes de pensar uma Ecologia ou Economia; a partir daí - e eu creio que seja possível a partir da Ética -, podemos pensar numa Economia e uma Ecologia e não fragmentos esparsos e não conciliáveis.
Debord é feliz nesse artigo quanto isso. Ainda que soe ingênuo ele falar em um soviet de marinheiros que não derramarão petróleo no mar, ele também fala no desenvolvimento da ciência dentro de uma perspectiva de controle operário, em prol da sociedade e não de empresas e seus interesses mercantis. Ainda que esteja tateando no escuro, pelo menos Debord está indo na direção correta.
abraços
Hugo, meu caro: estou de pleno acordo: o grande problema está na definição de "oikos", se é que o problema não é a noção de "oikos" em si. Quero dizer, talvez o problema está em conceber a Terra como uma "casa" privada. Você tem plena razão quando diz que a "ciência" não pode ficar na mão de empresas, mas não basta o controle "público", digamos assim - é preciso também mudar a concepção que temos do mundo e da natureza, excessivamente negativa (no sentido hegeliano também), e mediada pela "produção". Sobre isso tudo e sobre o texto do Debord, o Moysés escreveu um excelente post. De minha parte, também pretendo escrever mais detidamente sobre o assunto, espero que logo. Um abraço