No dia 31 de outubro, elegemos (o povo brasileiro como um todo, pois, ao que eu saiba, nossa democracia não possui colégios eleitorais ou outros mecanismos aristocráticos que uma certa "democracia" quer espalhar à força mundo afora) a primeira presidenta desse país. Pode não ser o/a presidente dos nossos sonhos, mas é - desculpem a repetição - a primeira presidenta desse país, o que já é muito. Além disso, deixamos de eleger o presidente de nossos pesadelos, o presidente dos Bornhausen, dos ruralistas, dos escravocratas. No primeiro turno, votei na Marina Silva, e até preferia ter votado em outra/o candidata/o petista no segundo (Marta Suplicy e Tarso Genro, por exemplo). E estou ciente de que Dilma será a presidenta de alguns pseudo-Bornhausen, de ruralistas e mesmo de escravocratas (vide a aliança de Mercadante com setores canavieiros de São Paulo). O discurso da vitória de Dilma já deixou bem claro qual será a tônica e a prioridade do governo: indicadores econômicos e distribuição de renda, sendo que educação e meio-ambiente continuarão a ser semi-perfurmaria, ainda que em um eventual governo serrista se limitassem a cores de gravatas. Todavia, ontem dissemos, para usar a expressão de Brizola, um "não rotundo" ao seqüestro da cidadania que o demo-tucanismo promove, dissemos um "não rotundo" ao que há de pior no país e ao que impede a efetivação da política. No dia 31 de outubro, optamos por continuar expandindo nossa democracia. No dia 31 de outubro, votamos pra que o discurso conservador que dominou o segundo turno pudesse sofrer um efeito bumerangue. No dia 31 de outubro, elegemos Dilma para que no dia primeiro de novembro - hoje - pudessemos continuar fazendo o que devemos fazer todos os dias: criticar, pressionar, imaginar, em suma, fazer política.
Publico abaixo um texto do meu grande amigo Raphael Perico Dutra (@raphaelperico no Twitter). Trata-se de um texto que ele mandou pruma lista de discussão, e que achei que merecesse ganhar a blogosfera. Há tempos venho insistindo para que o Raphael tenha um blogue (faz tempo que ele é um leitor assíduo e comentarista de alguns blogues); talvez esse post lhe dê o impulso necessário.
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Meu voto
por Raphael Perico Dutra
Recebo muitos e-mails sobre política neste período de eleições, principalmente (pra não dizer somente) sobre a candidata à presidência pelo PT, e acabo por ter problemas com aqueles que acham que a Dilma ter participado de guerrilha na época da ditadura é um absurdo (tem gente que não fez isso naquele tempo e acha que é moralmente superior, esquecendo do contexto da guerra-fria, onde o comunismo, por mais absurdo que seja considerado hoje em dia, era tomado como alternativa válida) e que ela é a favor do aborto (ela vacila na contradição, mas ser a favor da descriminalização do aborto é algo que eu também defendo e não devo ser - e ninguém deve ser - demonizado por isso). Também recebo e-mails de que ela é lésbica, come criancinhas e vai acabar com a liberdade religiosa, além daquele que diz que a urna eletrônica está programada; coisas desse tipo eu desmereço mesmo, sem dó (aliás, fulano que diz que "leu em e-mail" e toma como verdade absoluta é triste).
Um amigo me enviou um e-mail que se tratava de uma mãe respondendo a uma outra mãe (resumo da história = mãe de uma menina manda e-mail para uma lista de discussão - outra mãe lê e responde dizendo que a mulher está doutrinando as crianças e primeira mãe responde soltando fogo sobre o governo Lula e sua candidata. Todos já recebemos um e-mail desse tipo) que levanta uma série de fatos e questões pertinentes para o debate político que concerne à eleição presidencial. De fato, as irregularidades e os episódios de corrupção que a gente conhece do governo Lula são notórios, foram amplamente divulgados pela imprensa e comprovados em vários de seus pontos. Isso causa revolta em muitos dos eleitores antigos do PT, que viam no partido um "bastião da ética na política", e se decepcionaram quando viram que tudo não passava de um artifício para a chegada ao poder. Para mim, esta foi a chaga deste Governo, pois corrupção é corrupção, não tem cor nem ideologia partidária; é condenável em todas os gêneros.
Contudo, acho que chegar e dizer que este foi o "governo mais corrupto da história" é um exercício de falta de conhecimento da história brasileira, de memorização seletiva e de confiança cega nas intenções da imprensa tupiniquim. Sendo um leitor da Veja desde muito tempo - e até hoje - é notória a sua abordagem do assunto corrupção em períodos diferentes, isto é, no governo atual e nos anteriores. Tirando a época do Collor, que colocou num mesmo lado vários setores da política e sociedade brasileiras, e por isso trouxe reportagens e capas memoráveis da revista, o que acontecia de grave no governo FHC era abordado de forma muito diferente por essa revista, e, por conseqüência, pelos outros veículos de comunicação análogos (Folha, Estadão, Rede Globo).
Alguém se lembra da questão do tráfico de influência nas privatizações (Daniel Dantas obtendo informações privilegiadas na venda das empresas públicas), ou do SIVAM (Sistema de Radares da Amazônia - favorecimento da empresa americana Raytheon), ou da emenda da Reeleição (comprovação que dois deputados receberam dinheiro para votar a favor - onde tem dois provavelmente tem mais, mas isso a imprensa não investiga, né?), ou do estouro cambial logo após a reeleição de FHC em 1999, ou das salvações dos Bancos Econômico e Nacional (lembram deles - um patrocinava o Curíntia e outro estava no capacete do Senna) com milhões de reais? Isso tudo aconteceu no governo FHC, e muitas outras coisas mais que não me vêm à cabeça. A imprensa noticiava os ocorridos, mas de outra forma. Lembro como se fosse hoje da capa da Veja sobre "Corrupção - um mal" ou coisa assim. A revista nunca estigmatizava esse ou aquele partido, era sempre no contexto geral. De repente, o negócio mudou de contexto e já na primeira eleição de Lula a Veja põe na capa: "O que querem os radicais do PT". Isso era só um indício do que estava por vir.
E o debate ficou burro. O problema da corrupção - que é sistêmico - foi vinculado a um partido, e acabamos por ver uma situação inusitada: PSDB e, pasmem, o PFL (atual DEM pra quem não lembra) assumiram o papel de paladinos da moral, o que é no mínimo irônico. É claro que interessa a grande parte da classe dirigente o não-debate sobre o problema sistêmico da corrupção, uma questão cultural, que envolve todo o corpo social brasileiro, eu e você. Ficamos num denuncismo lacerdista de quinta categoria, que já foi utilizado pelo próprio PT, e as reais questões que poderiam debelar o problema - reforma política, fortalecimento dos órgãos fiscalizadores - foram colocadas de lado.
Mas é bom ressaltar que todos estes escândalos que conhecemos do governo Lula foram amplamente divulgados. A imprensa nunca teve tanta liberdade para divulgar falcatruas e fazer reportagens incisivas sobre os meandros da corrupção no governo federal, que já vem de muito. Como já falei antes, o acesso aos dados do governo - federal principalmente - não era tão aberto no governo FHC, e a imprensa não tinha essa vontade de denunciar como tem agora. Temos hoje, pelo menos, uma Polícia Federal capacitadíssima, com excelentes profissionais, e com uma estrutura que, de longe, supera os tempos passados, e que tem ampla liberdade para investigar o que for. O Procurador-Geral da República não é mais o "Engavetador-Geral da República" Geraldo Brindeiro, que trancava qualquer investigação sobre o governo FHC. O processo do Mensalão está no STF, sendo instruído, graças a uma maior abertura que veio, queira ou não, com a ascensão de Lula ao poder. O PT aparece e diz que tudo é jogo da direita. Não é, mas pelo menos deixam investigar, não fica aquela coisa toda no ar e depois o pessoal comenta a novela, como era antes.
Também é pertinente falar do total descrédito, por parte do governo Lula, das medidas tomadas pelo governo FHC para acabar com a inflação e estabilizar a economia. Isso é algo que eu não concordo, pois a mudança trazida pelo real é algo cabal para o bom momento do Brasil hoje. Todavia, alguns sacrifícios foram impostos à sociedade para que esta estabilidade fosse alcançada, principalmente no segundo mandato de FHC, e estes sacrifícios não foram combatidos de uma forma que poderiam ter aliviado o arrocho a que foi submetida grande parte da sociedade. A política de baixos juros dos bancos públicos que impera hoje, a expansão sem medo do crédito ao consumidor, o aumento real do salário mínimo e da renda foram, para mim, atos que devem ser creditados a uma vontade política do atual Governo. Como experiência pessoal, posso acrescentar que os anos de 1999-2002 foram os mais difíceis para a minha família financeiramente, com minha mãe tendo que fazer empréstimos em financeiras com juros de 14%, os preços das coisas aumentando e o salário arrochado. Por isso, entendo que houve sim uma mudança política com relação à economia do Brasil, e que veio pra melhorar a vida de muita gente, inclusive eu. Mas isso é argumentável, até porque economia não é uma área que eu tenha um entendimento muito profundo.
Com relação ao bolsa-família, entendo que a abordagem de que é pra "comprar voto de pobre" é desconhecimento do que se trata o bolsa-família, que se originou mesmo com o bolsa-escola do governo FHC, e que, atentem, copiou a idéia do governo de Cristóvam Buarque no Distrito Federal, que na época ainda pertencia aos quadros do PT. Lembro quando o meu amigo foi ao Piauí e disse que na cidade que ele visitou quase todo mundo recebia o bolsa-família e acabava por não trabalhar. Ele falou pra mim que as pessoas disseram que receberiam cinqüenta reais por mês para trabalhar em casa de família (!!!), e que o bolsa-família pagava um valor muito maior (não sei se era um salário mínimo, mas era definitivamente maior do que o emprego/escravidão pagaria). Temos pessoas no Nordeste tão ricas como aqui no Sul, mas que pagam salários de fome para os trabalhadores porque a estrutura sócio-econômica sempre foi assim, e nunca combatida por nenhum governo de forma tão efetiva como no governo Lula. Se o povo agora pode se alimentar de forma decente, se há recebimento de dinheiro para enviar seu filho para a escola, se há a possibilidade de comprar bens de consumo, por que o povo não deve identificar isso com o governo atual? O Serra já está dizendo que vai aumentar o bolsa-família e tal - e não duvido que assim o faça - mas seu real eleitorado pensa que tal programa deve acabar, e os que recebem devem voltar a trabalhar com salários de fome, principalmente no Nordeste.
Acredito que a principal falha da mensagem dita na carta da primeira mãe diz respeito à questão da política externa brasileira no governo Lula. A visão explicitada ali revela certa miopia, uma visão embaçada por pessoas como Reinaldo Azevedo e Diogo Mainardi. Tenho vontade de chamar o povo todo e explicar que tais críticas à relação do Brasil com países como Irã, Cuba e Venezuela carecem de fundamento, pois passam a idéia de que ao ter relações com estes países, o Brasil negligencia países parceiros tradicionais como os EUA e a União Européia. Na realidade, o prestígio brasileiro nunca esteve tão em alta junto às chancelarias mais importantes, que são o Departamento de Estado dos Estados Unidos e a Chancelaria Européia, como agora, já que hoje em dia o Brasil é chamado para as discussões mais relevantes no cenário global. Conferências chaves - como o G-20 - contam com a participação brasileira, que não está lá como mero participante, e sim como um dos atores principais na resolução de problemas sociais, econômicos e ambientais que afligem o mundo.
A diplomacia brasileira sempre se pautou pelo pragmatismo e pela autonomia. Quando se vinculou de forma cega às diretrizes de outros países, como no alinhamento aos EUA no governo Dutra e no governo Castello Branco, o Brasil foi prejudicado, pois foi visto de forma hostil por seus vizinhos sul-americanos e perdeu a capacidade de liderança. Num mundo cada vez mais multipolar, a colocação do Brasil como um ator principal nas questões mundiais se faz necessária para atingir os interesses precípuos do país, que são a promoção do desenvolvimento do país e de seus pares, os países emergentes. Uma atuação solitária do Brasil nos fóruns mundial ensejaria um isolamento contraproducente para os interesses do país.
É claro que o Lula vacila ao dizer que a eleição no Irã foi totalmente justa, ou que os presos políticos em Cuba são presos comuns, mas devemos se atentar que, no mundo das relações diplomáticas, a política de bastidores é mais relevante que declarações públicas, que também tem a sua importância, mas não são tão levadas a sério. Por isso, a atual política externa deve ser valorizada, pois a diversificação de parceiros internacionais previne o país em crises e aumenta o capital diplomático brasileiro. Cabe ressaltar que o governo Lula não está inventando nada em diplomacia, somente aprofundando posturas já tomadas por outros governos. A aproximação com o continente africano, por exemplo, já vem desde os governos militares, e os governos de Figueiredo e Sarney tiveram relações boas inclusive com o Iraque de Saddam Hussein.
Posso dizer que minha escolha nesse segundo turno não é a preferida. Gostaria muito de poder votar de novo em Marina Silva, sabendo que ela poderia trazer um pouco de imaginação para o debate político, trazendo a questão do meio ambiente e da sustentabilidade para o centro das discussões, numa postura mais condizentes com os desafios do século XXI (mais ou menos o que ela falava na campanha). A China começa a perceber que essas questões serão cabais para os jogos de poder nos anos que virão, e, apesar de ser um país extremamente poluidor, está adotando posturas de vanguarda nas áreas correlatas, como a área de energia. Acredito que ela se estabeleceu como uma nova força política no Brasil, e deve se preparar já para a campanha de 2014. Ela traz uma nova perspectiva na política, já que hoje temos que escolher entre o desenvolvimentismo vazio e o gerencialismo estagnante. Nestas duas escolhas que se apresentam, acabo ficando com a primeira, que é mais inclusiva.
Acabo por afirmar que minha escolha em Dilma é uma escolha crítica, fiscalizadora, que não avaliza a totalidade dos atos do governo Lula, mas que concorda com uma diretriz seguida por este governo, de inclusão social e aumento da classe média, com expansão do crédito e expansão da renda. Acredito que um governo Serra não saia muito desta toada, mas tenho medo que ele traga aquele marasmo que eu lembro ter vivido no período FHC, onde as coisas aconteciam e nada era combatido ou contestado. Lembro da época do racionamento de energia, em 2001. Algo que aconteceu por incompetência do governo era tratado como uma fatalidade, com reportagens mostrando o que a fulana fazia para economizar energia, e não perguntando de forma incisiva às autoridades que o estava acontecendo. Tenho medo de que aconteça o que falou meu amigo Alexandre Nodari, o "seqüestro da cidadania", onde toda a discussão política é encarada na seara da "gestão" - esta não como melhoria do serviço público, e sim um conceito vazio, de sucateamento e terceirização, com o governo virando um mero administrador de secos e molhados. Acredito que, em hipótese alguma, podemos encarar a administração pública como uma empresa, pois ela não deve ter lucro, e sim se manter de forma sustentável para prover, com qualidade, as necessidades básicas da população.
A participação na política é um direito de todos, educados ou não, sábios ou ignorantes, ricos e pobres, e acredito que a atual conjuntura possibilita essa participação mais plural, de todos os setores da sociedade. Não é o ideal - não mesmo - mas, Dilma acaba por representar o povo que ascende a uma posição mais importante no contexto brasileiro e aqueles que não pensam em reviver os arrochos e negações da época do governo FHC. Se o Brasil pode mais - como diziam (já não dizem mais) os tucanos - pode mais o quê? Eles nem programa de governo têm...
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Meu voto
por Raphael Perico Dutra
Recebo muitos e-mails sobre política neste período de eleições, principalmente (pra não dizer somente) sobre a candidata à presidência pelo PT, e acabo por ter problemas com aqueles que acham que a Dilma ter participado de guerrilha na época da ditadura é um absurdo (tem gente que não fez isso naquele tempo e acha que é moralmente superior, esquecendo do contexto da guerra-fria, onde o comunismo, por mais absurdo que seja considerado hoje em dia, era tomado como alternativa válida) e que ela é a favor do aborto (ela vacila na contradição, mas ser a favor da descriminalização do aborto é algo que eu também defendo e não devo ser - e ninguém deve ser - demonizado por isso). Também recebo e-mails de que ela é lésbica, come criancinhas e vai acabar com a liberdade religiosa, além daquele que diz que a urna eletrônica está programada; coisas desse tipo eu desmereço mesmo, sem dó (aliás, fulano que diz que "leu em e-mail" e toma como verdade absoluta é triste).
Um amigo me enviou um e-mail que se tratava de uma mãe respondendo a uma outra mãe (resumo da história = mãe de uma menina manda e-mail para uma lista de discussão - outra mãe lê e responde dizendo que a mulher está doutrinando as crianças e primeira mãe responde soltando fogo sobre o governo Lula e sua candidata. Todos já recebemos um e-mail desse tipo) que levanta uma série de fatos e questões pertinentes para o debate político que concerne à eleição presidencial. De fato, as irregularidades e os episódios de corrupção que a gente conhece do governo Lula são notórios, foram amplamente divulgados pela imprensa e comprovados em vários de seus pontos. Isso causa revolta em muitos dos eleitores antigos do PT, que viam no partido um "bastião da ética na política", e se decepcionaram quando viram que tudo não passava de um artifício para a chegada ao poder. Para mim, esta foi a chaga deste Governo, pois corrupção é corrupção, não tem cor nem ideologia partidária; é condenável em todas os gêneros.
Contudo, acho que chegar e dizer que este foi o "governo mais corrupto da história" é um exercício de falta de conhecimento da história brasileira, de memorização seletiva e de confiança cega nas intenções da imprensa tupiniquim. Sendo um leitor da Veja desde muito tempo - e até hoje - é notória a sua abordagem do assunto corrupção em períodos diferentes, isto é, no governo atual e nos anteriores. Tirando a época do Collor, que colocou num mesmo lado vários setores da política e sociedade brasileiras, e por isso trouxe reportagens e capas memoráveis da revista, o que acontecia de grave no governo FHC era abordado de forma muito diferente por essa revista, e, por conseqüência, pelos outros veículos de comunicação análogos (Folha, Estadão, Rede Globo).
Alguém se lembra da questão do tráfico de influência nas privatizações (Daniel Dantas obtendo informações privilegiadas na venda das empresas públicas), ou do SIVAM (Sistema de Radares da Amazônia - favorecimento da empresa americana Raytheon), ou da emenda da Reeleição (comprovação que dois deputados receberam dinheiro para votar a favor - onde tem dois provavelmente tem mais, mas isso a imprensa não investiga, né?), ou do estouro cambial logo após a reeleição de FHC em 1999, ou das salvações dos Bancos Econômico e Nacional (lembram deles - um patrocinava o Curíntia e outro estava no capacete do Senna) com milhões de reais? Isso tudo aconteceu no governo FHC, e muitas outras coisas mais que não me vêm à cabeça. A imprensa noticiava os ocorridos, mas de outra forma. Lembro como se fosse hoje da capa da Veja sobre "Corrupção - um mal" ou coisa assim. A revista nunca estigmatizava esse ou aquele partido, era sempre no contexto geral. De repente, o negócio mudou de contexto e já na primeira eleição de Lula a Veja põe na capa: "O que querem os radicais do PT". Isso era só um indício do que estava por vir.
E o debate ficou burro. O problema da corrupção - que é sistêmico - foi vinculado a um partido, e acabamos por ver uma situação inusitada: PSDB e, pasmem, o PFL (atual DEM pra quem não lembra) assumiram o papel de paladinos da moral, o que é no mínimo irônico. É claro que interessa a grande parte da classe dirigente o não-debate sobre o problema sistêmico da corrupção, uma questão cultural, que envolve todo o corpo social brasileiro, eu e você. Ficamos num denuncismo lacerdista de quinta categoria, que já foi utilizado pelo próprio PT, e as reais questões que poderiam debelar o problema - reforma política, fortalecimento dos órgãos fiscalizadores - foram colocadas de lado.
Mas é bom ressaltar que todos estes escândalos que conhecemos do governo Lula foram amplamente divulgados. A imprensa nunca teve tanta liberdade para divulgar falcatruas e fazer reportagens incisivas sobre os meandros da corrupção no governo federal, que já vem de muito. Como já falei antes, o acesso aos dados do governo - federal principalmente - não era tão aberto no governo FHC, e a imprensa não tinha essa vontade de denunciar como tem agora. Temos hoje, pelo menos, uma Polícia Federal capacitadíssima, com excelentes profissionais, e com uma estrutura que, de longe, supera os tempos passados, e que tem ampla liberdade para investigar o que for. O Procurador-Geral da República não é mais o "Engavetador-Geral da República" Geraldo Brindeiro, que trancava qualquer investigação sobre o governo FHC. O processo do Mensalão está no STF, sendo instruído, graças a uma maior abertura que veio, queira ou não, com a ascensão de Lula ao poder. O PT aparece e diz que tudo é jogo da direita. Não é, mas pelo menos deixam investigar, não fica aquela coisa toda no ar e depois o pessoal comenta a novela, como era antes.
Também é pertinente falar do total descrédito, por parte do governo Lula, das medidas tomadas pelo governo FHC para acabar com a inflação e estabilizar a economia. Isso é algo que eu não concordo, pois a mudança trazida pelo real é algo cabal para o bom momento do Brasil hoje. Todavia, alguns sacrifícios foram impostos à sociedade para que esta estabilidade fosse alcançada, principalmente no segundo mandato de FHC, e estes sacrifícios não foram combatidos de uma forma que poderiam ter aliviado o arrocho a que foi submetida grande parte da sociedade. A política de baixos juros dos bancos públicos que impera hoje, a expansão sem medo do crédito ao consumidor, o aumento real do salário mínimo e da renda foram, para mim, atos que devem ser creditados a uma vontade política do atual Governo. Como experiência pessoal, posso acrescentar que os anos de 1999-2002 foram os mais difíceis para a minha família financeiramente, com minha mãe tendo que fazer empréstimos em financeiras com juros de 14%, os preços das coisas aumentando e o salário arrochado. Por isso, entendo que houve sim uma mudança política com relação à economia do Brasil, e que veio pra melhorar a vida de muita gente, inclusive eu. Mas isso é argumentável, até porque economia não é uma área que eu tenha um entendimento muito profundo.
Com relação ao bolsa-família, entendo que a abordagem de que é pra "comprar voto de pobre" é desconhecimento do que se trata o bolsa-família, que se originou mesmo com o bolsa-escola do governo FHC, e que, atentem, copiou a idéia do governo de Cristóvam Buarque no Distrito Federal, que na época ainda pertencia aos quadros do PT. Lembro quando o meu amigo foi ao Piauí e disse que na cidade que ele visitou quase todo mundo recebia o bolsa-família e acabava por não trabalhar. Ele falou pra mim que as pessoas disseram que receberiam cinqüenta reais por mês para trabalhar em casa de família (!!!), e que o bolsa-família pagava um valor muito maior (não sei se era um salário mínimo, mas era definitivamente maior do que o emprego/escravidão pagaria). Temos pessoas no Nordeste tão ricas como aqui no Sul, mas que pagam salários de fome para os trabalhadores porque a estrutura sócio-econômica sempre foi assim, e nunca combatida por nenhum governo de forma tão efetiva como no governo Lula. Se o povo agora pode se alimentar de forma decente, se há recebimento de dinheiro para enviar seu filho para a escola, se há a possibilidade de comprar bens de consumo, por que o povo não deve identificar isso com o governo atual? O Serra já está dizendo que vai aumentar o bolsa-família e tal - e não duvido que assim o faça - mas seu real eleitorado pensa que tal programa deve acabar, e os que recebem devem voltar a trabalhar com salários de fome, principalmente no Nordeste.
Acredito que a principal falha da mensagem dita na carta da primeira mãe diz respeito à questão da política externa brasileira no governo Lula. A visão explicitada ali revela certa miopia, uma visão embaçada por pessoas como Reinaldo Azevedo e Diogo Mainardi. Tenho vontade de chamar o povo todo e explicar que tais críticas à relação do Brasil com países como Irã, Cuba e Venezuela carecem de fundamento, pois passam a idéia de que ao ter relações com estes países, o Brasil negligencia países parceiros tradicionais como os EUA e a União Européia. Na realidade, o prestígio brasileiro nunca esteve tão em alta junto às chancelarias mais importantes, que são o Departamento de Estado dos Estados Unidos e a Chancelaria Européia, como agora, já que hoje em dia o Brasil é chamado para as discussões mais relevantes no cenário global. Conferências chaves - como o G-20 - contam com a participação brasileira, que não está lá como mero participante, e sim como um dos atores principais na resolução de problemas sociais, econômicos e ambientais que afligem o mundo.
A diplomacia brasileira sempre se pautou pelo pragmatismo e pela autonomia. Quando se vinculou de forma cega às diretrizes de outros países, como no alinhamento aos EUA no governo Dutra e no governo Castello Branco, o Brasil foi prejudicado, pois foi visto de forma hostil por seus vizinhos sul-americanos e perdeu a capacidade de liderança. Num mundo cada vez mais multipolar, a colocação do Brasil como um ator principal nas questões mundiais se faz necessária para atingir os interesses precípuos do país, que são a promoção do desenvolvimento do país e de seus pares, os países emergentes. Uma atuação solitária do Brasil nos fóruns mundial ensejaria um isolamento contraproducente para os interesses do país.
É claro que o Lula vacila ao dizer que a eleição no Irã foi totalmente justa, ou que os presos políticos em Cuba são presos comuns, mas devemos se atentar que, no mundo das relações diplomáticas, a política de bastidores é mais relevante que declarações públicas, que também tem a sua importância, mas não são tão levadas a sério. Por isso, a atual política externa deve ser valorizada, pois a diversificação de parceiros internacionais previne o país em crises e aumenta o capital diplomático brasileiro. Cabe ressaltar que o governo Lula não está inventando nada em diplomacia, somente aprofundando posturas já tomadas por outros governos. A aproximação com o continente africano, por exemplo, já vem desde os governos militares, e os governos de Figueiredo e Sarney tiveram relações boas inclusive com o Iraque de Saddam Hussein.
Posso dizer que minha escolha nesse segundo turno não é a preferida. Gostaria muito de poder votar de novo em Marina Silva, sabendo que ela poderia trazer um pouco de imaginação para o debate político, trazendo a questão do meio ambiente e da sustentabilidade para o centro das discussões, numa postura mais condizentes com os desafios do século XXI (mais ou menos o que ela falava na campanha). A China começa a perceber que essas questões serão cabais para os jogos de poder nos anos que virão, e, apesar de ser um país extremamente poluidor, está adotando posturas de vanguarda nas áreas correlatas, como a área de energia. Acredito que ela se estabeleceu como uma nova força política no Brasil, e deve se preparar já para a campanha de 2014. Ela traz uma nova perspectiva na política, já que hoje temos que escolher entre o desenvolvimentismo vazio e o gerencialismo estagnante. Nestas duas escolhas que se apresentam, acabo ficando com a primeira, que é mais inclusiva.
Acabo por afirmar que minha escolha em Dilma é uma escolha crítica, fiscalizadora, que não avaliza a totalidade dos atos do governo Lula, mas que concorda com uma diretriz seguida por este governo, de inclusão social e aumento da classe média, com expansão do crédito e expansão da renda. Acredito que um governo Serra não saia muito desta toada, mas tenho medo que ele traga aquele marasmo que eu lembro ter vivido no período FHC, onde as coisas aconteciam e nada era combatido ou contestado. Lembro da época do racionamento de energia, em 2001. Algo que aconteceu por incompetência do governo era tratado como uma fatalidade, com reportagens mostrando o que a fulana fazia para economizar energia, e não perguntando de forma incisiva às autoridades que o estava acontecendo. Tenho medo de que aconteça o que falou meu amigo Alexandre Nodari, o "seqüestro da cidadania", onde toda a discussão política é encarada na seara da "gestão" - esta não como melhoria do serviço público, e sim um conceito vazio, de sucateamento e terceirização, com o governo virando um mero administrador de secos e molhados. Acredito que, em hipótese alguma, podemos encarar a administração pública como uma empresa, pois ela não deve ter lucro, e sim se manter de forma sustentável para prover, com qualidade, as necessidades básicas da população.
A participação na política é um direito de todos, educados ou não, sábios ou ignorantes, ricos e pobres, e acredito que a atual conjuntura possibilita essa participação mais plural, de todos os setores da sociedade. Não é o ideal - não mesmo - mas, Dilma acaba por representar o povo que ascende a uma posição mais importante no contexto brasileiro e aqueles que não pensam em reviver os arrochos e negações da época do governo FHC. Se o Brasil pode mais - como diziam (já não dizem mais) os tucanos - pode mais o quê? Eles nem programa de governo têm...
O Sopro 37 está no ar, com o belíssimo texto de María Zambrano: Uma metáfora da esperança: As Ruínas (publicado originalmente na revista Lyceum - vol VIII, n. 26, Havana (Cuba), maio de 1951 -, da qual Rodrigo Lopes de Barros Oliveira o extraiu e traduziu). O desenho ao lado é de autoria de Eko, artista que gentilmente o cedeu para a capa. O texto integra a seção de Arquivo do Sopro, na qual já publicamos Walter Benjamin, Carl Einstein, Salvatore Satta, Furio Jesi, Flávio de Carvalho, Roberto Jacoby, Severo Sarduy, Guy Debord, etc.
Além do texto de Zambrano, o Sopro 37 traz o verbete Rio, de George França, uma leitura, via Heráclito, do topos do rio na poesia, em especial a modernista brasileira.
Vale lembrar que o Sopro pode ser visualizado no formato .PDF.
Além disso, aos que se interessaram pelo Seminário Direito e Ditadura, recomendo a leitura do debate que realizamos no Sopro sobre a questão da Anistia no Brasil.
Além do texto de Zambrano, o Sopro 37 traz o verbete Rio, de George França, uma leitura, via Heráclito, do topos do rio na poesia, em especial a modernista brasileira.
Vale lembrar que o Sopro pode ser visualizado no formato .PDF.
Além disso, aos que se interessaram pelo Seminário Direito e Ditadura, recomendo a leitura do debate que realizamos no Sopro sobre a questão da Anistia no Brasil.
De 25 a 29 de outubro, no Auditório do Fórum Norte da Ilha (UFSC - Florianópolis), acontece o Seminário Direito e Ditadura (o site do evento é um dos sites mais bonitos de eventos acadêmicos que já vi), organizado pelo PET do Direito da UFSC. O evento será excelente, com gente boa vinda de todo o país; uma oportunidade excelente para fazermos algo que pouco se faz nesse país: debatermos a nossa mais recente ditadura militar, seus antecedentes, suas conseqüências, seu modus operandi. A programação definitiva já está disponível. É difícil destacar alguma coisa. Já a conferência de abertura, na segunda, dia 25, é muito boa: será feita por Carlos Fico, que destrinchou muitos arquivos. Na terça, 26, de manhã, fala Beatriz Kushnir, que escreveu Cães de Guarda, livro em que relata a participação do grupo da Folha na ditadura. Também terça, mas à noite, o Pádua Fernandes falará sobre a atuação de alguns juristas no regime militar, a partir da pesquisa de arquivo que faz no DEOPS de São Paulo. Na quarta à tarde, estarei numa mesa junto com Flávia Cera e o Murilo Duarte Costa Corrêa, e à noite, Vladimir Safatle falará sobre "O direito à violência como base da democracia". Na quinta, os destaques vão para a fala de Raúl Antelo (sobre "Consciência e estratégia", que contraporá as leituras de Roberto Schwarz e Ernesto Laclau sobre o fenômeno ditatorial na América Latina), pela manhã e para a de Flávia Piovesan. Por fim, na sexta, além do encerramento com Marcelo Ridenti, o escritor Salim Miguel falará pela manhã. Salim, além de bom escritor, tem muito a contar sobre a ditadura. Foi preso logo após o golpe de 64, e a livraria que levava informalmente seu nome foi fechada e teve seus livros queimados. Quando eu estava na graduação e editava, junto a colegas, a revista RECRIE, entrevistamos Salim para o primeiro número, em que ele relata essas histórias.
Além de tudo isso, haverá também 15 mesas de comunicações na terça e quarta à tarde. Vieram mais de 70 trabalhos de todas as regiões do país, o que comprova a importância e a relevância do evento. A lista com as mesas de comunicações, que foram organizadas tematicamente, está disponível aqui. Quatro delas são dedicadas à Justiça de Transição, que tratarão os fundamentos teóricos das comissões de verdade e memória, que compararão a experiência brasileira com as de outros países, que abordarão a correlação de forças envolvidas na disputa pela anistia (focando o recente caso do PNDH-3), etc. Haverá também uma mesa sobre a persistência da tortura na democracia, uma sobre Literatura e Ditadura, e muitas outras. De minha parte, coordenarei uma mesa chamada "A exceção que se excede na normalidade: restos da ditadura", em que a perniciosa permanência da exceção na democracia será discutida. Falarão na mesa, entre outros, Leonardo D'Ávila, e Victor Cândido, que apresentará um trabalho, que estou ansioso para ouvir, sobre como a Lei do Ficha-Limpa reorganiza "democraticamente" não só um topos legitimador da ditadura, a corrupção, mas também uma prática, o controle da escolha. Todos sabemos que quando se abre a porteira, não dá pra controlar os bois. E a recente proposta de estender o Ficha-Limpa a outras atividades da vida pública dota o trabalho de Victor de mais relevância. Entender o que está, de fato, em jogo é essencial.
Ah, para os que não são de Florianópolis ou não virão ao evento, ele será transmitido ao vivo pelo site.
Além de tudo isso, haverá também 15 mesas de comunicações na terça e quarta à tarde. Vieram mais de 70 trabalhos de todas as regiões do país, o que comprova a importância e a relevância do evento. A lista com as mesas de comunicações, que foram organizadas tematicamente, está disponível aqui. Quatro delas são dedicadas à Justiça de Transição, que tratarão os fundamentos teóricos das comissões de verdade e memória, que compararão a experiência brasileira com as de outros países, que abordarão a correlação de forças envolvidas na disputa pela anistia (focando o recente caso do PNDH-3), etc. Haverá também uma mesa sobre a persistência da tortura na democracia, uma sobre Literatura e Ditadura, e muitas outras. De minha parte, coordenarei uma mesa chamada "A exceção que se excede na normalidade: restos da ditadura", em que a perniciosa permanência da exceção na democracia será discutida. Falarão na mesa, entre outros, Leonardo D'Ávila, e Victor Cândido, que apresentará um trabalho, que estou ansioso para ouvir, sobre como a Lei do Ficha-Limpa reorganiza "democraticamente" não só um topos legitimador da ditadura, a corrupção, mas também uma prática, o controle da escolha. Todos sabemos que quando se abre a porteira, não dá pra controlar os bois. E a recente proposta de estender o Ficha-Limpa a outras atividades da vida pública dota o trabalho de Victor de mais relevância. Entender o que está, de fato, em jogo é essencial.
Ah, para os que não são de Florianópolis ou não virão ao evento, ele será transmitido ao vivo pelo site.
No primeiro turno, votei em Marina Silva. A votação expressiva que ela obteve mostra que o recado foi dado, quebrando a forma-plebiscito que a eleição ameaçava adquirir e colocando na mesa a necessidade de se pensar o país e de se repensar as estratégias políticas. As avaliações que surgiram no primeiro debate (a de que Plínio disputaria o terceiro lugar com ela), e que mesmo desmentidas dia após dia reapareceram ao se subestimar a chamada "onda verde", ridicularizando-a como "marola verde", são sintomáticas de uma miopia na análise política. Essa miopia continua em certa desvalorização do eleitorado da Marina, tão eclético quanto o eleitorado de Dilma (só o eleitorado do Serra é homogêneo: corresponde ao universo de pessoas que habitam o imaginário produzido pela pior revista semanal do mundo). A política funciona assim mesmo: um significante (no caso, Marina ou Dilma) agrupa em torno de si demandas diferentes, através da produção de uma cadeia equivalencial (isto é, unindo-as em uma base ou discurso mais ou menos comum). Basta, reorganizando a cadeira equivalencial, conseguir um quarto desse eleitorado eclético da Marina pra liquidar a fatura no segundo turno. Eu estou nessa fatia.
Na minha declaração de voto à Marina, já estava sinalizado que eu votaria em Dilma no segundo turno: meu post se abre com um balanço das conquistas do governo Lula (as quais eu considerava motivo suficiente para os que votariam em Dilma já no primeiro turno). Não há nenhuma linha sobre o Serra. Jamais votaria naquele que quer fazer voltar, nas palavras certeiras de Plínio, o governo do "pessoal que tem nome e sobrenome" sobre os "que não têm nome". Não voltar ao regime político-econômico tucano que sequestra a cidadania, como o regime militar antes sequestrava os corpos, é motivo mais do que suficiente para mim votar em Dilma no dia 31 de outubro.
Na minha declaração de voto à Marina, já estava sinalizado que eu votaria em Dilma no segundo turno: meu post se abre com um balanço das conquistas do governo Lula (as quais eu considerava motivo suficiente para os que votariam em Dilma já no primeiro turno). Não há nenhuma linha sobre o Serra. Jamais votaria naquele que quer fazer voltar, nas palavras certeiras de Plínio, o governo do "pessoal que tem nome e sobrenome" sobre os "que não têm nome". Não voltar ao regime político-econômico tucano que sequestra a cidadania, como o regime militar antes sequestrava os corpos, é motivo mais do que suficiente para mim votar em Dilma no dia 31 de outubro.
Quando Lula venceu as eleições de 2002, parecia que, passados longo quarenta anos de tecnocracia militar e civil, a imaginação chegava ao poder. As forças vivas da sociedade ameaçavam tornar-se de fato vivas, e, apesar da Carta ao Povo Brasileiro (de certo modo uma capitulação), a esperança de pensar o país vencia o medo de fazê-lo, o conforto de seguir a cartilha neoliberal. Era a própria política, as próprias instituições que estavam a ponto de saírem da inércia em que os militares a haviam adormecido. Uma verdadeira revolução democrática se desenhava. A turma de Plínio apresentava um audacioso programa de reforma agrária; o esporte, até então tratado pela lógica do espetáculo, iria se converter em ferramenta de inclusão social, por intermédio de um plano bolado por gente da estirpe de Juca Kfouri; Marina Silva, no Fórum Social Mundial de 2003, falava na transversalidade da política ambiental, em que a preocupação pela sustentabilidade não ficaria restrita a um ministério, mas faria parte do planejamento econômico e social; criava-se o chamado Conselhão, composto de representantes de toda a sociedade (empresários, sindicalistas, gente das Igrejas, dos órgãos de classe, dos movimentos sociais), que pensaria o novo "pacto social" e daria as bases para as reformas política e tributária; a necessidade de acabar com a perversa mazela da fome se cristalizava na adesão total da sociedade ao Fome Zero. À mera gestão da ordem, a eleição de Lula, e do PT, contrapunha o retorno da política.
Por uma série de motivos, esse movimento de pensar o país, de refundar as instituições, de realinhar historicamente o Brasil foi arrefecendo. No primeiro ano de mandato, o governo optou (ou necessitou) por não aproveitar a "Onda Lula" e fazer as reformas que dariam as bases para essas transformações, preferindo (ou tendo que) evitar a crise econômica gestada pelo neoliberalismo tucano. Pouco a pouco, as mudanças de base institucionais foram dando lugar à conciliações em que se perdia mais do que se ganhava - o Conselhão foi perdendo sua força, a reforma agrária não pautou a política agrícola, bem como a preocupação ambiental voltou a ser um mero entrave ao desenvolvimento econômico (os dois maiores erros do governo, a meu ver), os mesmos "comunistas" que lideraram a CPI contra a CBF, alçados ao poder tornaram-se aliados dela. O fim simbólico desse momento transformador foi o chamado mensalão. A partir dele, Lula se descolou do PT, e o governo adotou a postura desenvolvimentista que Dilma encarna tão bem. Nesse movimento, o PT deixou de ser o partido que aglutinava simbolicamente os setores que pensavam o país para se tornar a brigada da transformação econômica e social promovida por Lula. Essa mudança, porém, trouxe inúmeros benefícios, como o fortalecimento do consumo interno, uma ascensão social nunca antes vista nesse país (com a política de valorização do salário mínimo, com a conversão do Fome Zero em Bolsa Família, etc.), com o reaparalhamento das universidades federais, com a política externa ativa adotada, etc. Todos esses seriam motivos suficientes pra votar em Dilma. Todavia, eu quero mais.
Os ganhos inegáveis do governo Lula, talvez o melhor da história do país na questão social e um dos melhores da questão econômica, provavelmente possibilitaram a base objetiva para a transformação política e institucional que o país tanto precisa. É provável que só agora - e não em 2002 - se possa, de fato, colocar a imaginação no poder, e pensar os rumos que queremos dar, para evitar que a diversidade social e ambiental se converta em homogenia. Acredito, com Viveiros de Castro, que Marina Silva simbolize essa diversidade e a necessidade de pensá-la estrategicamente como pólo norteador de nossa política. Confesso que quando no começo da campanha Marina decidiu pautar a sua plataforma na educação, e não na necessidade de rever o modelo produtivo e de consumo, ainda devastatórios e concentracionários, fiquei decepcionado. Aos poucos, porém, vi que o discurso de Marina sobre a educação encarnava a aliança entre o sonho e a possibilidade de que fala Viveiros de Castro: investir 7% do PIB em educação, fomentar pesadamente (e não só com meia dúzia de editais do CNPq) pesquisas ligadas à tecnologia verde, apoiar de verdade iniciativas de conversão da nossa matriz energética, tudo isso aponta para uma mudança estratégica do papel do nosso país. A partir de investimentos estratégicos em educação é possível ao mesmo tempo colocar o pensamento na agenda política e mudar os rumos sócio-econômicos de nosso "desenvolvimento".
Considero que Lula mudou os parâmetros da gestão econômica e social a que o governo foi reduzido na segunda metade do século XX. Todavia, acredito que é preciso mais do que apenas gerir o Brasil, é preciso repensar as bases da gestão, é preciso uma mudança política, de olhar. Precisamos passar da economia (a administração da casa) à ecologia (o pensar sobre a casa) e é isso que o socioambientalismo encampado por Marina Silva, herdeira de Chico Mendes, põe na ordem do dia: não se trata apenas de preservar as "reservas ecólogicas", mas de pensar "o próprio problema da possibilidade material de existência do mundo". O modelo capitalista não provoca apenas uma cisão entre proprietários e proletários; na sua base está uma concepção progressista mais difundida na inesgotabilidade das condições materiais de existência da Terra (concepção partilhada pelo socialismo real e pelo desenvolvimentismo nacionalista). O tempo urge. É preciso unir a crítica ao capitalismo à crítica ao progresso infinito.
Guy Debord, em O planeta doente, argumentava que o problema ambiental, já grave em 1972, fazia com que o lema "A revolução ou a morte" deixasse de ser "a expressão lírica da consciência revoltada", para se tornar a única verdade política: "Nesta sociedade em que o suicídio progride como se sabe, os especialistas tiveram que reconhecer, com um certo despeito, que ele caíra a quase nada em maio de 1968. Essa primavera obteve assim, sem precisamente subi-lo em assalto, um bom céu, porque alguns carros queimaram e porque a todos os outros faltou combustível para poluir. Quando chove, quando há nuvens sobre Paris, não esqueçam nunca que isso é responsabilidade do governo. A produção industrial alienada faz chover. A revolução faz o bom tempo." É evidente que Marina Silva está longe da revolução de que falava Debord. Mas é provável que esteja mais próxima dela do que os outros candidatos. Ao menos, porém, nos faz pensar na sua necessidade. Verde por fora, vermelho por dentro, ou vermelho por fora e verde por dentro - tanto faz, o que importa é a indissociabilidade de ambos, o fato de que um não pode existir sem o outro. Essa é a mensagem de Marina Silva, e é por isso que, depois de votar por 10 anos no PT, votarei nela, ainda mais esperançoso do que votei em Lula em 2002.
Por uma série de motivos, esse movimento de pensar o país, de refundar as instituições, de realinhar historicamente o Brasil foi arrefecendo. No primeiro ano de mandato, o governo optou (ou necessitou) por não aproveitar a "Onda Lula" e fazer as reformas que dariam as bases para essas transformações, preferindo (ou tendo que) evitar a crise econômica gestada pelo neoliberalismo tucano. Pouco a pouco, as mudanças de base institucionais foram dando lugar à conciliações em que se perdia mais do que se ganhava - o Conselhão foi perdendo sua força, a reforma agrária não pautou a política agrícola, bem como a preocupação ambiental voltou a ser um mero entrave ao desenvolvimento econômico (os dois maiores erros do governo, a meu ver), os mesmos "comunistas" que lideraram a CPI contra a CBF, alçados ao poder tornaram-se aliados dela. O fim simbólico desse momento transformador foi o chamado mensalão. A partir dele, Lula se descolou do PT, e o governo adotou a postura desenvolvimentista que Dilma encarna tão bem. Nesse movimento, o PT deixou de ser o partido que aglutinava simbolicamente os setores que pensavam o país para se tornar a brigada da transformação econômica e social promovida por Lula. Essa mudança, porém, trouxe inúmeros benefícios, como o fortalecimento do consumo interno, uma ascensão social nunca antes vista nesse país (com a política de valorização do salário mínimo, com a conversão do Fome Zero em Bolsa Família, etc.), com o reaparalhamento das universidades federais, com a política externa ativa adotada, etc. Todos esses seriam motivos suficientes pra votar em Dilma. Todavia, eu quero mais.
Os ganhos inegáveis do governo Lula, talvez o melhor da história do país na questão social e um dos melhores da questão econômica, provavelmente possibilitaram a base objetiva para a transformação política e institucional que o país tanto precisa. É provável que só agora - e não em 2002 - se possa, de fato, colocar a imaginação no poder, e pensar os rumos que queremos dar, para evitar que a diversidade social e ambiental se converta em homogenia. Acredito, com Viveiros de Castro, que Marina Silva simbolize essa diversidade e a necessidade de pensá-la estrategicamente como pólo norteador de nossa política. Confesso que quando no começo da campanha Marina decidiu pautar a sua plataforma na educação, e não na necessidade de rever o modelo produtivo e de consumo, ainda devastatórios e concentracionários, fiquei decepcionado. Aos poucos, porém, vi que o discurso de Marina sobre a educação encarnava a aliança entre o sonho e a possibilidade de que fala Viveiros de Castro: investir 7% do PIB em educação, fomentar pesadamente (e não só com meia dúzia de editais do CNPq) pesquisas ligadas à tecnologia verde, apoiar de verdade iniciativas de conversão da nossa matriz energética, tudo isso aponta para uma mudança estratégica do papel do nosso país. A partir de investimentos estratégicos em educação é possível ao mesmo tempo colocar o pensamento na agenda política e mudar os rumos sócio-econômicos de nosso "desenvolvimento".
Considero que Lula mudou os parâmetros da gestão econômica e social a que o governo foi reduzido na segunda metade do século XX. Todavia, acredito que é preciso mais do que apenas gerir o Brasil, é preciso repensar as bases da gestão, é preciso uma mudança política, de olhar. Precisamos passar da economia (a administração da casa) à ecologia (o pensar sobre a casa) e é isso que o socioambientalismo encampado por Marina Silva, herdeira de Chico Mendes, põe na ordem do dia: não se trata apenas de preservar as "reservas ecólogicas", mas de pensar "o próprio problema da possibilidade material de existência do mundo". O modelo capitalista não provoca apenas uma cisão entre proprietários e proletários; na sua base está uma concepção progressista mais difundida na inesgotabilidade das condições materiais de existência da Terra (concepção partilhada pelo socialismo real e pelo desenvolvimentismo nacionalista). O tempo urge. É preciso unir a crítica ao capitalismo à crítica ao progresso infinito.
Guy Debord, em O planeta doente, argumentava que o problema ambiental, já grave em 1972, fazia com que o lema "A revolução ou a morte" deixasse de ser "a expressão lírica da consciência revoltada", para se tornar a única verdade política: "Nesta sociedade em que o suicídio progride como se sabe, os especialistas tiveram que reconhecer, com um certo despeito, que ele caíra a quase nada em maio de 1968. Essa primavera obteve assim, sem precisamente subi-lo em assalto, um bom céu, porque alguns carros queimaram e porque a todos os outros faltou combustível para poluir. Quando chove, quando há nuvens sobre Paris, não esqueçam nunca que isso é responsabilidade do governo. A produção industrial alienada faz chover. A revolução faz o bom tempo." É evidente que Marina Silva está longe da revolução de que falava Debord. Mas é provável que esteja mais próxima dela do que os outros candidatos. Ao menos, porém, nos faz pensar na sua necessidade. Verde por fora, vermelho por dentro, ou vermelho por fora e verde por dentro - tanto faz, o que importa é a indissociabilidade de ambos, o fato de que um não pode existir sem o outro. Essa é a mensagem de Marina Silva, e é por isso que, depois de votar por 10 anos no PT, votarei nela, ainda mais esperançoso do que votei em Lula em 2002.
Pretendia escrever um post explicitando e explicando meus votos. Mas como a eleição já é domingo, acredito que não terei tempo de fazer a segunda parte (explicação), então vai pelo menos a primeira (a declaração):
Presidente: Marina Silva (PV) - 43
Governador: estou entre votar em Rogério Novaes (PV) - 43, não por ele (é sintomático que, sendo o candidato verde, ele não fale em meio-ambiente), mas pelo valor simbólico do PV ter uma boa votação na candidatura ao governo e também pra evitar que o candidato DEMO-TUCANO-PMDB ganhe no primeiro turno -, em Ideli Salvatti (PT) - 13 - pra evitar que o segundo turno aqui seja entre DEM e PP (Angela Amin está em segundo lugar nas pesquisas) - ou anular o voto.
Senador 1: Fabiano Piovesan (PV) - 430 - Deveria ter sido o candidato a governador do PV.
Senador 2: Estou em dúvida entre votar em Vignatti (PT) - 130, e anular. Vignatti é um bom quadro e parlamentar, mas me enoja o representante do clã Berger que é um de seus suplentes, coisas de um pragmatismo que chegou com 8 anos de atraso. O sentido do meu voto em Vignatti seria evitar que a coligação DEM-PSDB-PMDB levasse as duas vagas (ainda que não seja de duvidar que os dois senadores acabassem aderindo mais tarde a um governo de Dilma).
Deputado Federal: Miriam Prochnow (PV) - 4343
Deputado Estadual: Jorge João (PV) - 43555. Ex-militante do PT, Jorge João representa a meu ver, a vertente urbana do socioambientalismo encampado por Marina Silva. Localmente, ele é um dos únicos a trazer a necessidade da reforma urbana, tema essencial em uma cidade como Florianópolis, que está sendo devastada pela especulação imobiliária e o crescimento desordenado. Depois de Marina Silva, será meu voto mais entusiasmado.
1. Há 70 anos, o totalitarismo matava Walter Benjamin. Não foi só o nazismo, mas também o estalinismo, que fechou as portas para o pensamento do "corcunda" messiânico-marxista. As Teses sobre o conceito de história, verdadeiro testamento intelectual do maior filósofo de todos os tempos, foram escritas sob o choque do pacto de não-agressão entre a Alemanha de Hitler e a União Soviética de Stálin.
2. Devo à leitura dos textos de Walter Benjamin a guinada crucial na minha vida intelectual, política e pessoal, algo como uma conversão que me salvou de outra conversão. Não fossem por eles, provavelmente eu seria ou um marxista que acredita no progresso da história, ou um "melancólico de esquerda" (aquele que se põe numa posição que "não está à esquerda desta ou daquela tendência, mas simplesmente à esquerda de toda e qualquer possibilidade", uma "postura à qual não corresponde mais ação política nenhuma" ). Foi Walter Benjamin também que me salvou da cômoda postura de tratar a arte como uma esfera sagrada e incontaminada, pois "não há documento de cultura que não seja ao mesmo tempo documento da barbárie".
3. Como a memória humana não funciona do mesmo modo que a memória das máquinas, por anos repeti uma frase que, para mim, resumia a visão benjamiana, e que eu atribuía ao filósofo alemão. Só recentemente me dei conta de que a frase não era dele, mas de Kautsky, de quem Benjamin a apropriou na obra-sem-autor, de puras citações, que atende pelo nome de Passagens. E o pior: descobri que a frase que eu repetia - e continuo repetindo - era uma versão deturpada da original. Na minha versão simplista, verdadeira "traição da memória", a frase dizia e ainda diz: o marxismo é a possibilidade de pensar não dogmaticamente. Nos momentos de fraqueza, ela serve como um mantra contra as conversões que sempre insistem em se insinuar.
4. Durante os anos 1930, Walter Benjamin chegou a cogitar vir lecionar literatura alemã na USP. Infelizmente, ele não veio, e os convertidos ao progresso lhe forçaram a tirar a própria vida. Todavia, como insiste Giorgio Agamben, os autores que amamos não estão mortos, mas vivem dentro de nós. Um tanto pretensiosamente, gosto de acreditar que um pouco de Benjamin ainda vive em cada linha que escrevo.
P.S.: Ano passado, publicamos no Sopro a primeira tradução ao português (realizada por Pádua Fernandes) do fragmento Mickey Mouse de Walter Benjamin. Por mínimo que seja, o texto condensa muito de sua filosofia e mostra a atualidade de seu diagnóstico: ainda hoje, "a humanidade prepara-se para sobreviver à civilização".
2. Devo à leitura dos textos de Walter Benjamin a guinada crucial na minha vida intelectual, política e pessoal, algo como uma conversão que me salvou de outra conversão. Não fossem por eles, provavelmente eu seria ou um marxista que acredita no progresso da história, ou um "melancólico de esquerda" (aquele que se põe numa posição que "não está à esquerda desta ou daquela tendência, mas simplesmente à esquerda de toda e qualquer possibilidade", uma "postura à qual não corresponde mais ação política nenhuma" ). Foi Walter Benjamin também que me salvou da cômoda postura de tratar a arte como uma esfera sagrada e incontaminada, pois "não há documento de cultura que não seja ao mesmo tempo documento da barbárie".
3. Como a memória humana não funciona do mesmo modo que a memória das máquinas, por anos repeti uma frase que, para mim, resumia a visão benjamiana, e que eu atribuía ao filósofo alemão. Só recentemente me dei conta de que a frase não era dele, mas de Kautsky, de quem Benjamin a apropriou na obra-sem-autor, de puras citações, que atende pelo nome de Passagens. E o pior: descobri que a frase que eu repetia - e continuo repetindo - era uma versão deturpada da original. Na minha versão simplista, verdadeira "traição da memória", a frase dizia e ainda diz: o marxismo é a possibilidade de pensar não dogmaticamente. Nos momentos de fraqueza, ela serve como um mantra contra as conversões que sempre insistem em se insinuar.
4. Durante os anos 1930, Walter Benjamin chegou a cogitar vir lecionar literatura alemã na USP. Infelizmente, ele não veio, e os convertidos ao progresso lhe forçaram a tirar a própria vida. Todavia, como insiste Giorgio Agamben, os autores que amamos não estão mortos, mas vivem dentro de nós. Um tanto pretensiosamente, gosto de acreditar que um pouco de Benjamin ainda vive em cada linha que escrevo.
P.S.: Ano passado, publicamos no Sopro a primeira tradução ao português (realizada por Pádua Fernandes) do fragmento Mickey Mouse de Walter Benjamin. Por mínimo que seja, o texto condensa muito de sua filosofia e mostra a atualidade de seu diagnóstico: ainda hoje, "a humanidade prepara-se para sobreviver à civilização".
O Sopro 36 está no ar com uma resenha de Eduardo Sterzi de Maria com Marcel. Duchamp nos trópicos, livro de Raul Antelo recém lançado pela Editora da UFMG. Antelo é um dos maiores críticos literários em atividade, e o Sopro já publicou, no número de estréia, uma resenha minha de um livro seu anterior, o Crítica Acéfala.
Além de "Com Maria e Marcel, à margem" (título da resenha assinada por Sterzi), o Sopro apresenta o verbete "Xeque-mate", de Victor da Rosa.
O Sopro 36 também pode ser lido em .PDF, e os números anteriores do panfleto político-cultural que co-edito com Flávia Cera podem ser visualizados aqui.
Além de "Com Maria e Marcel, à margem" (título da resenha assinada por Sterzi), o Sopro apresenta o verbete "Xeque-mate", de Victor da Rosa.
O Sopro 36 também pode ser lido em .PDF, e os números anteriores do panfleto político-cultural que co-edito com Flávia Cera podem ser visualizados aqui.
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